Os riograndenses estavam acostumados ao jogo das armas. Foram quase 200 anos de conflitos, de correrias, de entreveros com o Império do Brasil e os castelhanos. Os sacrifícios infligidos pelas revoluções e pelas guerras fizeram os sulistas cultuarem o valor pessoal, a hombridade, a solidariedade e o sentimento libertário. Desde a Proclamação da República, em 1889, dois partidos dominavam a política do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Riograndense (o PRR, de lenço branco, cujos partidários também eram chamados de Pica-paus ou Chimangos) e o Partido Federalista do Rio Grande do Sul (o PFR, de lenço vermelho, os Maragatos).

O governo ditatorial de Borges de Medeiros (o Chimango) feria e afrontava o espírito liberal de grande parte do povo gaúcho. Desde 1913, Borges ganhava as eleições mediante fraudes, canetaços e ameaças. Em novembro de 1922, ocorreram novas eleições para a Presidência do Estado. Pela Carta Constitucional, precisaria dos votos de três quartos do eleitorado para ser reeleito. E ele ganhou! Antes da posse, porém, já uma parte da oposição se levantara em armas.

Aqui em Caçapava, como mostra a transcrição abaixo, o Coronel Coriolano de Castro foi chamado a se unir às forças revolucionárias de Bagé, Dom Pedrito, Lavras e São Gabriel. Assim formou-se a 3ª Divisão do Exército Libertador, que operou na região centro-sul. Estes contingentes eram o que a oposição possuía de mais destacado e representativo nessas cidades, veteranos de outras revoluções, cujo comandante era o general Estácio Xavier de Azambuja, veterano da guerra civil de 93. A violenta revolução de 1923 durou 11 meses. A pacificação ocorreu com a assinatura do Acordo de Pedras Altas em 14 de dezembro. O Chimango permaneceu no poder até janeiro de 1928.

O texto foi transcrito mantendo sua grafia original.

 

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Apontamentos da minha marcha e acontecimentos da revolução Rio grandense de 1923.

28 de Março parti de Santa (Maria) para meu estabelecimento do Irapuá. Neste mesmo dia reuniram-se a mim o Capitão Firmino da Roza. Dois filhos, Sargento Galdino da Roza, os irmãos Anastácio e João da Roza; Antônio Silva , Manoel Lemos. E meus filhos Coriolano e (Orlando). Dias 29, 30, 31 e 1º e 2º de Abril, estivemos em comunicação com outros companheiros, Coronel João Guedes e Galvão Saldanha.

Abril 3 – Marchamos as 20h em direção a (Santa Maria) e acampamos na fazenda de João Candido Mello.

“ 4 marchamos de campo para o Campo de (Quintilhano) Dornelles. E Ahi permanecemos a espera do Tenente Coronel João Krausser – os dias 5, 6, 7 (…….) dia chegaram  o Coronel Krausser e oito companheiros.

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Abril 8. marchamos a noite – acampamos para pouzo em Campo de (Etelmino) Rodrigues Lopes. dia nove marchamos de campo para invernada do (Leovigildo) Rodrigues e ahi permanecemos aguardando chamado do General Estácio Azambuja os dias 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, e 17. dia 18 recebi um xasque do General Estácio, chamando a incorporar no dia 20; marchamos no mesmo dia 18 a noite e posamos no passo D’Areia, dia 19 marchamos pela manhã e acampamos para churrasco ao meio dia no passo do Caldeirão. Marchamos a tarde e incorporamos no mesmo dia as 18 horas, com os contingentes de Caçapava e 4º Distrito e Cachoeira respectivamente, Capitão Antônio

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19 Alves, Milton Alves, (Mario) Medeiros – muitos outros, Ariovaldo Alves, Major Galvão Saldanha, Pio Barreto, Fábio Leitão, Irmãos Almeida, Juca Carvalho, Nenê Xavier, Doca Roza e muitos outros ao todo sessenta e oito homens; acampamos a mesma hora em campo de Cândido Teixeira em baixo de chuva torrencial.