Transcrição da carta do chefe Federalista Laurentino Pinto Filho, líder Maragato que bateu as forças legalistas comandadas pelo Coronel Romão Xavier Mariano, que acabou morto no combate. Texto extraído do “O Democrata”, diário liberal do Pará, nº 71, de 28 de março de 1893, um dos jornais de oposição ao Governo Floriano Peixoto. Esta documentação chegou à Casa de Cultura Juarez Teixeira através de uma parceria com o Arquivo Histórico Municipal Nicolau Silveira Abrão, de Caçapava do Sul, que disponibilizou cópias digitalizadas deste importante documento. Transcrito conforme grafia original.

 

Recebemos em carta de Porto Alegre cópia dos seguintes documentos deixados pelos federalistas em Caçapava, sobre o combate ferido próximo aquella cidade. O primeiro documento compõe-se de trechos de parte ou officio do chefe federalista Laurentino Pinto Filho e os outros documentos lhe são annexos.

Diz o caudilho revolucionário:

“Vou pois relatar o que passou. A uma hora da tarde do dia 17 deste, fui avisado pelo capitão de minha força Julio Cherubim Alvarez da Cruz, que o piquete que estava postado em observações á cidade, e de nós distante umas doze quadras, tinha sido tiroteiado pelo inimigo, e que o alferes Antonio Joaquim Lopes, se achava ferido e talvez morto tendo desaparecido do lugar onde tinha sido ferido. Incontinente fiz ensilhar cavallos, que poucos momentos antes haviamos soltado, de regresso de uma descoberta, dei ordem para o esquadrão de clavineiros me acompanhar. Segui a meia redea acompanhado de oito clavineiros, os primeiros que se apromptarão, e, em distância de seis quadras vi que o inimigo em retirada era tiroteiado pelo valente capitão Geraldo Silveira do Nascimento e os bravos companheiros officiaes Julião Barcellos, João Corrion, Pacífico de Vargas, José Wilter de Moraes e o valente soldado Julio, ordenança do brioso commandante Gaspar Barreto, que acudirão primeiro que eu por acharem-se casualmente em casa do patriota José de Moraes, próximo ao lugar em que estava o piquete

Na distância de 600 metros, principiamos a tirotear o inimigo que tinha tomado boa posição, apparentando pequena força, quando tinha em distancia e occulto grosso reforço. Alli fui alcançado pelo resto dos clavineiros e pela força de cavallaria que vinha em protecção, ao mando dos dignos commandantes Gaspar Barreto e Laurindo da Trindade.

Travou-se fogo successivo; o inimigo acossado marchou em retirada desordenada, sendo desfalcado por nossas certeiras balas. Houve entre vero, abatendo-se adversários a coronha de espingarda.

O inimigo apesar de bem armado e melhor montado, ficou possuido de pannico ao ver por terra seu bravo commandante coronel Romão Xavier Mariano, que lutou como um heroe. Debandado o inimigo mandei fazer alto para evitar uma carnificina em infelizes compatriotas, que fugião abandonando os campos da luta.

Recolhido ao acampamento estava redigindo uma mensagem, a que vae sob n. 1, quando recebi o officio de capitulação n. 2. Satisfeita a minha aspiração, enviei a mensagem e recebi em contestação o officio n. 3.

No dia 18 fiz minha entrada na cidade com 500 homens, na melhor ordem, sem uma manifestação de regosijo. Aprisionei o intendente Antônio Celso de Campos e aos cidadãos Antônio Carlos Oleques, dr. Clemente Pinto, João Guasina e Liberato Feiteiro, que são tratados com toda consideração e garantias.

Hoje entreguei a praça ao cidadão Pedro Maciel, pelo officio n. 4 e marcho a tomar posição em terreno mais conveniente. Tive resposta pelo officio n. 5 – Na luta perdemos um dos mais valorosos companheiros, o capitão Gregório Pinto Malheiros e tivemos tres feridos. Entre os mortos contão-se o coronel Romão e João Lucio de Figueiredo.

Arrecadarão-se 50 clavinas, 6 cunhetes, cartuchos, lanças e retomou-se o alfares Antônio Joaquim que apenas tinha pequeno ferimento e que portou-se com valor. A população ficou satisfeita com esta entrada, o commercio não ficou interrompido, a ordem não foi alterada como se vê no documento n. 6.

Portarão-se com valor, e são dignos de menção, os seguintes officiaes: Luiz Valerio Barcellos, Geraldo Silveira, capitão Lothario Vasconcellos, Francisco Gomes Machado, Dario Luiz de Vasconcellos, Antônio Porto Monteiro, Zeferino de Assis Lobato, Virgilio Gomes Porto, Pedro Alexandrino, Julião Barcellos, José Wilter de Moraes, Pacífico Vargas, João Carrion e o soldado Julio e muitos outros.

O resto da força portou-se na altura de seu valor, nunca abandonando seu posto, sempre avançado. Forão prestadas as devidas homenagens aos mortos, sendo seu enterramento acompanhado por toda a officialidade. Fica assim descripto ligeiramente o que se passou.

A minha força esparsa no municipio monta a mil e duzentos homens dos seguintes municipios: Cachoeira 300, Lavras 120, Santa Anna do Faxinal 150 e o restante d’aqui.

Cumpre notar que não ha um só recrutado.

Tendo por auxiliares os prestimosos che(…): Gaspar Barreto, Vasco Saraiva, tenente-coronel Juvencio Fontoura, Fermino Rodrigues de Freitas, capitão Sebastião Alves e capitão Antonio Bernardo da Silva.

De momento a momento chegam patriotas.

Caçapava, 19 de Fevereiro de 1893 – (Assignado) Laurentino Pinto Filho