Certa manhã, sem pressa à mesa do café – meu privilégio de aposentada –, falávamos sobre as crises do momento, entre elas a hídrica e a energética. Qual delas nos afetaria mais? As discussões foram longe. Lembramos – os participantes de mais de sessenta anos – do tempo em que os banhos, antes da água encanada, davam tanto trabalho. Tirar água do poço, aquecer no fogão à lenha e temperar num jarro para despejar numa bacia de latão. Os costumes também eram outros. Famílias numerosas só usavam banho uma vez por semana.

Lembro as tardes de domingo da minha infância. Prontas para a matinê do Mirandinha, a luz da cascata apagava, e o programa não acontecia. Às vezes, na hora dos calouros, pelo rádio, quando torcíamos por algum cantor ou cantora e ficávamos ansiosos à espera do resultado, a luz fugia, e o final continuava desconhecido.

Numa noite dessas, faltou luz, e qualquer distração que eu procurava, jogo no computador, ouvir música, assistir filmes, nada foi possível. Nem mesmo ligar os aparelhos domésticos ou o filtro d´água. Como ficamos dependentes desses confortos!

E a nossa enquete do café da manhã ficou empatada.

Agora, nosso país de tantas florestas, rios caudalosos, terra fértil e louvada nas antigas poesias escolares ficou para trás. O povo unido e forte, também. Nunca houve um distanciamento tão grande entre os dois polos que se formaram. O que um faz, o outro desfaz. E o país não avança, só dá marcha à ré.

É este o cenário de 07 de setembro de 2021. Aplausos de um lado, protestos de outros. A faixa branca de nossa bandeira nunca esteve tão ameaçada em todo o país. Índios defendem seus territórios – com justa razão – enquanto, nos gabinetes palacianos, tentam traçar os seus destinos. Os primeiros donos do Brasil, que amam rios, florestas, suas terras e os preservam com seus costumes ecológicos, são motivados a trocar a natureza pelos avanços da tecnologia. Suas tradições, pelos confortos da vida moderna. A troco de quê? Das queimadas, do contrabando de madeira, de pedras preciosas, de matéria-prima, de sua alma nativa.

Preço do gás, da gasolina, greve de caminhoneiros, de rodoviários, reformas tributárias, de leis sobre a defesa da Pátria e outras de interesse do povo estão recebendo remendos pelo despreparo e intenção negativa de quem os inspira. E o preço da cesta básica – ai meu Deus. Como é que o pobre vai comprar e cozer seus alimentos? Gás, energia elétrica, carvão e lenha? Tudo está pela hora da morte.

Mas os combustíveis jorram das mangueiras para essas manifestações do dia da Independência. Quem é que paga?

Que o Cristo do Corcovado não canse seus braços de proteger-nos, de apontar-nos os caminhos e reavivar nossas forças, a fé, a fraternidade, a vontade de colaborar, levar uma gotinha de água que seja para apagar os incêndios, contribuir para as boas colheitas, ajudar quem tem sede, fome, aconchego.

E que Nossa Senhora Aparecida proteja os humildes, desvalidos e a todo o povo brasileiro para que volte a orgulhar-se das cores de nossa bandeira, e elas continuem a representar nossas riquezas naturais, a paz e a união, que levam ao progresso e à igualdade social e fraterna.