Sempre tive muita curiosidade de ler essa série de livros pelo fato de C. S. Lewis e Tolkien serem amigos e trocarem opiniões sobre seus textos, mas não era uma prioridade. Um dia, eu estava na Feira do Livro de Pelotas, olhando os livros expostos em um dos estandes quando alguém deixou bem na minha frente o volume único com os sete livros. Saí de lá com ele nas mãos.

Depois de alguns anos na estante, no final de 2021, resolvi embarcar na leitura. Normalmente, nas colunas sobre séries, falo um pouco sobre cada livro, mas agora é impossível, pois são sete. Optei, então, por falar sobre três deles, que foram os que mais gostei e também são os três primeiros: O sobrinho do mago; O leão, a feiticeira e o guarda-roupa; e O cavalo e seu menino.

No primeiro livro, Polly conhece Digory, um menino que acabara de se mudar para a casa dos tios, André e Leta. Digory conta a Polly que há um mistério em sua nova casa e que envolve seu tio, mas não tem nenhuma pista, pois sempre que André tenta lhe dizer algo, Leta o impede. Na casa de Polly também há um mistério: no sótão, há um corredor que vai muito além daquela propriedade, como se passasse sobre as casas vizinhas. Juntas, as crianças irão explorar esse corredor e embarcar em uma aventura em que tudo pode acontecer. Nesse livro, é contado o mito de criação de Nárnia, que, assim como o de Arda na mitologia de Tolkien, tem relação com a música.

O segundo livro, você pode já conhecer. Ele foi adaptado para o cinema, mas há algumas diferenças. A impressão é que, no livro, tudo acontece mais rápido. Quatro irmãos – Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia – deixam Londres durante a Segunda Guerra devido aos bombardeios. Eles vão para a casa de um velho professor, onde encontram um cômodo no qual só há um simples guarda-roupa. Ficando sozinha, Lúcia decide abri-lo e entrar. Assim, acaba descobrindo Nárnia, onde ela e os irmãos encontrarão seu destino.

Já em O cavalo e seu menino, o protagonista é Shasta, uma criança que vivia em Calormânia – reino ao Sul de Nárnia – sob os cuidados de Arriche. Shasta tinha o desejo de conhecer o Norte, mas seu tutor o proibia. Isso faz com que o menino sinta que algo o conecta àquela região. Um dia, ouvindo Arriche negociar sua venda a um viajante, Shasta foge para o Norte, enfrentando grandes perigos, mas enfim descobrindo quem realmente é.

Além da já citada semelhança entre os mitos de criação de Nárnia e de Arda, várias outras são encontradas entre a série de Lewis e a mitologia tolkieniana. Anéis utilizados como forma de controle e referências bíblicas são outros dois exemplos. Mas Lewis utiliza um tom muito mais infantil, o que, de certa forma, me desagradou no início; e os textos de Tolkien são preparados para serem sequenciais. As crônicas de Nárnia até demonstram ter essa intenção quando diz que o livro quatro se passa um ano após o final do dois, e que o cinco se passa três anos após o quatro, porém Lewis peca no quesito originalidade nas estórias protagonizadas por Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia. Elas têm sempre o mesmo motivo: ir para Nárnia ajudar a resolver algum problema. Mas isso não significa que as estórias não sejam boas.

 

Referência:

LEWIS, C. S. As crônicas de Nárnia. Tradução de Silêda Steuernagel e Paulo Mendes Campos. Ilustrações de Pauline Baynes. 2ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. 752p.