A primeira vez que li Demian, de Hermann Hesse, foi lá por 2015. Lembro que achei a narrativa superdifícil, mas apesar disso, percebi que havia ali reflexões muito interessantes sobre o ser humano e suas crenças. O livro foi ficando na estante, e nos olhávamos, esperando uma oportunidade para uma nova tentativa. E esse dia finalmente chegou. Talvez seja uma questão de maior maturidade agora ou simplesmente de momento, mas pude perceber que, na realidade, a narrativa não é aquele bicho de sete cabeças que pareceu.

Demian é narrado em primeira pessoa por alguém que diz que irá nos contar sua própria história. Mas faz bem mais do que isso. Este narrador, Sinclair, começa falando sobre sua infância e sobre como se sentia dividido entre dois mundos: um era relacionado ao pai e à mãe, e representava a paz e a segurança; o outro era relacionado a todo o resto, e representava algo que acredito ser melhor resumido como “o caos”.

Sinclair tinha o desejo de, quando adulto, fazer parte de um mundo como o de seus pais, mas se sentia mais atraído pelo outro. Aluno de uma escola particular, ele também era amigo de crianças que estudavam em escola pública, e é a partir de sua relação com um deles, Franz Kromer, que começa a contar a história.

Eles se conheceram num dia em que Sinclair estava com dois outros garotos e Kromer se juntou ao grupo. Sentindo-se desconfortável por não ter uma história como as deles para compartilhar, Sinclair inventou uma. Mas não contava que algo ao menos parecido com o que relatara pudesse ter realmente acontecido. Por causa dessa mentira, ele passa a ser chantageado por Kromer, e quem o ajudará com essa situação é Max Demian, quem dá nome ao livro.

Demian é um novo aluno da escola em que Sinclair estuda e se tornará personagem recorrente e muito importante em sua vida. É através de sua influência que Sinclair, membro de uma família religiosa, começa a contestar a religião familiar e a buscar seu próprio caminho, seu próprio Deus e sua própria crença.

Talvez o que me chame mais a atenção em Demian não seja o enredo, mas algumas das colocações de Sinclair. Por exemplo, quando ele fala, no Prólogo, sobre o que é ser um homem. Além disso, há suas discussões sobre religião com Demian, como quando falam sobre o sinal de Caim. É por essas colocações e reflexões que convido você a conhecê-los e a pensar com eles.

 

Referência:

HESSE, Hermann. Demian. Tradução e posfácio de Ivo Barroso. 47ed. Rio de Janeiro: Record, 2016. 196p.