Talvez você já tenha ouvido falar sobre o balé “O Quebra-Nozes”. Ele é baseado no conto de Alexandre Dumas, “História de um quebra-nozes”, que, por sua vez, é uma versão traduzida com acréscimos – como muito bem definiu Priscila Mana Vaz na “Apresentação” à edição da Zahar – do original de E. T. A. Hoffmann, “O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos”.

É dessa edição da Zahar, O Quebra-Nozes, que me ocupo agora. Ela reúne as duas versões desse conto de fadas. Na “Apresentação”, Priscila Vaz traz algumas informações sobre os textos, felizmente sem nenhum spoiler. Leia sem medo! Além disso, ela também fala brevemente sobre o balé.

A versão que se tornou um clássico foi a de Dumas. Isso pode ser efeito de ter sido traduzida ao francês, idioma mais falado no mundo àquela época. Priscila Vaz a define como menos assustadora que a de Hoffmann. Guarde esta informação, logo voltarei a ela. Dumas incluiu explicações sobre os costumes alemães – a trama se passa em Nuremberg – para que seus leitores franceses (como fica explícito no texto) pudessem compreender melhor a narrativa. Outra inclusão foi uma divertida introdução, na qual relata como surgiu sua versão do conto.

“História de um quebra-nozes” começa na véspera de Natal, com a entrega dos presentes a Fritz e Marie, filhos do prefeito de Nuremberg. Entre as coisas que ganham, está um quebra-nozes em forma de boneco. Por se interessar tanto por ele, Marie é nomeada pelo pai como a responsável pelo objeto. No final da noite, depois que todos já haviam ido dormir e ela está sozinha, ao colocar o quebra-nozes em um armário com os outros presentes, Marie começa a ouvir alguns ruídos. O que estará acontecendo?

“O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos”, originalmente escrita em alemão, não tem grandes diferenças da versão de Dumas. Ela é um pouco menor e mais direta. Além disso, não se passa em Nuremberg, mas mantém uma relação com a cidade; alguns personagens têm o mesmo nome, mas papeis diferentes; e o pai das crianças não é prefeito, mas sim um médico que tinha três filhos, Fritz, Marie e Luise.

Como dito anteriormente, Priscila Vaz definiu a versão de Dumas como menos assustadora que a de Hoffmann. Talvez ela se referisse a uma versão de “O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos” que não a utilizada para a fazer a tradução ao português que foi publicada em O quebra-nozes. Também em sua “Apresentação”, Priscila fala de uma segunda publicação do conto de Hoffmann “já com mudanças que enfatizam o caráter infantil do texto”. Isso significa que existe mais de uma versão – ou pelo menos existiu, infelizmente, às vezes, esses materiais se perdem. E temos que lembrar que as versões originais de muitas das estórias que hoje consideramos uma forma de entreter e divertir as crianças se destinavam a amedrontá-las.

Para mim, nenhuma das duas versões apresentadas em O quebra-nozes é assustadora. No texto de Hoffmann, há um pequeno sobressalto quando um camundongo se aproxima de Marie, e só. Nada que faça com que alguém deva se preocupar ao ler essa versão para uma criança.

 

Referência:

DUMAS, Alexandre; HOFFMANN, E. T. A. O Quebra-Nozes. Tradução de André Telles e Luís S. Krausz. 1ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. 344p.