É Sábado de Aleluia e está chovendo. Um homem sai do metrô em Bucareste, capital da Romênia, e caminha apressado pelas calçadas até parar em uma esquina onde o sinal para pedestres está fechado. Enquanto espera, ele observa as poças de água na rua que terá de cruzar e, no momento em que o sinal fica verde, um raio o atinge, queimando toda a sua pele.

Isso deveria tê-lo matado, mas o homem resiste. Levado para o hospital, ele tem períodos de consciência – quando ouve os médicos falando sobre seu estado de saúde – e de inconsciência – momentos em que parece “desligar-se” e recorda coisas do passado. Mas será mesmo que ele está oscilando entre esses dois estados?

Os médicos se empenham em mantê-lo vivo até que chegue à cidade o professor Bernard, um especialista que, espera-se, poderá descobrir como ocorreu o milagre que permitiu a esse homem não só sobreviver, mas também rejuvenescer. É sob os cuidados deste professor que ele começará a se recuperar e a viver uma nova juventude. Mas isso é real?

Enquanto os médicos tentam curá-lo mantendo discrição sobre o caso, o homem tenta esconder quem é. Todo esse mistério leva a Siguranta – polícia secreta romena que atuou no entreguerras – a achar que ele é, na verdade, um líder legionário que se prepara para fugir do país.

Esse é o pontapé inicial da trama de Uma outra juventude, de Mircea Eliade. Vejo essa estória como um misto de várias coisas, desde uma análise do ser humano e do impacto das frustrações em sua vida até pitadas de ficção científica, com um quê de mistério. E sendo Eliade o fundador da moderna História das Religiões, não poderiam faltar também elementos mitológicos e simbolismos nessa obra.

 

Referência:

ELIADE, Mircea. Uma outra juventude e Dayan. Tradução e notas de Fernando Klabin. São Paulo: Editora 34, 2016. 216p. (Coleção Leste)

 

P. S.: Com relação à referência, a edição utilizada como base para esta coluna reúne duas obras de Mircea Eliade, Uma outra juventude e Dayan. Elas são independentes.