O Dia do Amigo neste isolamento da pandemia tem sua maior razão de ser comemorado. Eles estão presentes nas mensagens, nos incentivos e nos dão coragem em todos os momentos. Com eles, recordamos tempos idos e sonhamos com novas jornadas, quando for possível o abraço, a roda do chimarrão, do tricô em grupo, das comemorações de aniversários. E, naturalmente, nas horas tristes, quando precisamos de um ombro que nos ampare.

Dona Sinhá, avançada em idade, além dos filhos e netos adultos morando cada um em seu canto, não tem com quem conversar, a não ser as cuidadoras que procuram animá-la, mas não conhecem seu passado nem suas necessidades presentes. Foi quando um vizinho teve a ideia de oferecer-lhe um filhotinho da recente ninhada de sua fértil cadela Matilde. As cuidadoras franziram o nariz. Mais um trabalho! Mas Ivonete gostou quando viu o bichinho, um mestiço de collier e mais outro sangue. E ele ficou.

A princípio tímido e chorão, ele gostou do berço e dos brinquedos que lhe tinham preparado, uma bolinha de borracha, um osso de mentira e um cachorrinho de pelúcia. Passados alguns dias, já se achava em casa. Foi quando os problemas começaram. Dona Sinhá, ao levantar, procurava em vão as pantufas à beira da cama.  Barnabé – foi como o chamaram – tinha levado para seu berço. Acontece que o chinelo tinha a cara de um bichinho.

Aos poucos, Barnabé foi tomando conta da casa. As folhagens caprichadas de Dona Sinhá foram ao chão e os vasos, quebrados. Os enfeites da mesinha da sala tiveram seus bibelôs, vasos e flores quebrados ou levados para não sei onde. Barnabé não respeitou nem o sofá, onde ocupou o lugar da dona. Ela pensou em devolvê-lo, mas o bichinho a olhava com um olhar tão amoroso que a fazia desistir.

Barnabé cresceu rápido, e sua dona teve de providenciar vacinas, remédios, cuidados para que ele se criasse sadio. Isso tudo foi criando laços entre os dois.

Quando Barnabé saiu à rua, a criançada o acolheu no grupo. Nos jogos de bola, ele era o gandula que a buscava lá longe. Mas, quando ele resolveu fugir com a bola, a gurizada gritou, enfurecida. Outro dia, ele avançou num menino, tirando-lhe o celular da mão. E saiu correndo a todo galope. As crianças gritavam “ladrão, ladrão”, assustando dona Sinhá, que foi ver o que acontecia. Ele acudiu a seu chamado, e o celular foi devolvido.

Quando Barnabé já estava mais forte, ganhou uma casinha no pátio. Até área tinha na frente, impedindo que a chuva entrasse. Mas um cachorro maior da vizinhança resolveu acomodar-se ali, e foi uma briga para expulsá-lo. Nas noites mais frias, Barnabé consentia que uma gata sem dono se aconchegasse com ele.

Dona Sinhá criou cores, ficou mais saudável, encontrou assuntos para falar aos filhos e ouvir-lhes conselhos sobre a criação do animalzinho. E divertia os netos contando-lhes as proezas do sapequinha. Aos poucos, Barnabé se tornou íntimo para os desabafos da vovozinha, e uma boa companhia no sofá para assistir às novelas.

Neste dia do Amigo, minha admiração a esses animais que nos confortam na solidão, nas doenças, nas tristezas. E alegram-se também quando a vida nos sorri.  Sentindo as mesmas saudades dos humanos pelos amigos que partiram.

Aos meus amigos que me aceitam assim como sou, que são companheiros de todas as horas – ainda que virtualmente –, em especial meus familiares natos ou adotados, os votos de muitas alegrias, sucessos, longa vida. Minha gratidão pelo companheirismo, telefonemas diários – da amiga quase irmã – atualizando-me do que acontece lá fora, comentários a respeito do que virá depois, e o que ora nos preocupa, enfim, sem vocês não sei o que seria de mim.

Que Deus os abençoe, neste dia e sempre.