Numa certa noite de 1967, meu irmão e eu, casereando lá fora, acordamos de madrugada pelo alarido da cachorrada ante a chegada de um tio nosso, a cavalo, batendo com o cabo do relho na janela do quarto da frente. Acendemos uma luz pálida de lampião a querosene, e ele, meio tragueado, vindo da venda, apressado para chegar em casa, me alcançou um folheto que divulgava uma tal de Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Resende, RJ, onde se formavam oficiais do Exército Brasileiro. Havia sido enviado por um parente que prestava serviço militar em Cachoeira e, não tendo nenhum interesse por aquela profissão, lembrou-se de mim, segundo ele, estudioso e sem dinheiro para custear uma faculdade.

Me impressionei com o  livrinho, principalmente com a piscina olímpica, a biblioteca, o cinema e a gratuidade do ensino na dita escola. Ao longo daquele ano, procurei saber mais a respeito da vida militar e dos trâmites burocráticos para ingressar nela e me tornar profissional das armas.

Lá pela metade de 1968, orientado pelo Ten. Mendoza, que era Delegado do Serviço Militar, autossediado em Caçapava, encaminhei o meu pedido de inscrição para a Aman na condição de aluno civil concludente do segundo grau em escola pública, precisando realizar exames em Porto Alegre, em calendário a ser fixado e que eu nem procurei saber, na crença inocente e ignorante de que me seria informado posteriormente.

Recebi um telegrama confirmando a inscrição, e me fui para fora de férias, loco de faceiro com a possível viagem para o RJ, onde conheceria pessoalmente a já tão sonhada Escola Militar.

Um belo dia, durante o mês de novembro, minha mãe perguntou pelos exames, já que nenhuma informação me fora enviada. Fui para a cidade com pouco dinheiro, no ônibus que passava na BR-290, direto à Junta do Serviço Militar, onde soube que as provas haviam se iniciado naquele dia. Arrumei dinheiro emprestado com o futuro sogro, comprei o material de educação física fiado, paguei a passagem para um amigo ir comigo à capital do Estado, onde eu nunca estivera antes e nem sabia procurar o local das provas.

No outro dia, depois de perambular pelo QG do então III Exército, na Rua da Praia, descobrimos que os procedimentos estavam acontecendo no quartel do 6º BE Cmb, no Partenon, onde hoje fica a PUC. Desci do taxi e dei de cara com um primo que era soldado raso naquele quartel saindo pelo portão principal para buscar uma cachaça para o sargento do rancho.

Em meados de fevereiro de 1969, desembarquei do ônibus da Pluma em Resende, de onde saí Aspirante a Oficial do Exército Brasileiro, arma de Engenharia por opção, em 16 de dezembro de 1972, classificado para servir no mesmo 6° Batalhão de Engenharia, agora em São Gabriel-RS.

Vesti o sagrado manto verde-oliva até 13 de fevereiro de 2001, quando entreguei o Comando do 1° Batalhão Ferroviário de Lages-SC, depois de exitosos quatro anos de labor intenso, encerrando a pedido a minha nobre profissão de Oficial das Forças Armadas do Brasil.

Através do Exército, conheci um bocado de Brasil e boas partes do mundo. Não guardo saudade dolorida, mas sim boas lembranças de labor e convivência fraterna, afinal, nem toda lembrança é saudade.