Dona Emerenciana acordou assustada. Nenhum som familiar, nem o choro do nenê – ela ainda pensava em dar mamá ao caçula –, nem galinhas ciscando, Bidu latindo, e o quarto às escuras. Onde estão a porta e a janela?

– Bom dia, mamãe, passou bem a noite? Não estranhou o colchão?

“Quem será essa pessoa?”, pensou dona Emê, sem reconhecer o próprio filho.

Foi a primeira noite na casa dele. Viera do sítio de Júlio, o mais novo, onde passara o último mês.

Desde que a diagnosticaram com Alzheimer, a família passou a cuidar da mãe por períodos na casa de cada membro. Pagar acompanhante para deixá-la na própria casa não dera certo. Um trabalho de mercenária que nem sempre é carinhoso – com honrosas exceções –, e às vezes até cruel, não agradava aos filhos. Queriam proporcionar-lhe o melhor bem-estar possível, por gratidão e afeto. Mas as mulheres da casa eram sobrecarregadas com os novos encargos, que a cada dia ficavam mais difíceis. Por isso, resolveram fazer o rodízio.

Com isso, a rotina de cada casa se alterava, dietas especiais, remédios a horas certas, cuidados de higiene, banho e troca de fraldas, nada comparado ao trato dos bebês, que correspondem com sorrisos e gracinhas da idade. Eles são a esperança, o dia de amanhã. Ao contrário, vovó Emerenciana nem os reconhece, são estranhos. É o que mais dói entre os familiares.

Na casa vizinha, a sirene de uma ambulância, gritos e choros anunciam uma tragédia. Ali morava um casalzinho jovem, num lar feliz à espera de filhos e novas alegrias.

Mas a morte não o poupou. Não lhe faltava nada, um bom emprego, expectativas de promoção na carreira, o amor de uma bela esposa! Que má hora para morrer!

São esses mistérios que ninguém sabe explicar.

O que nos cabe fazer é acordar agradecendo a Deus por mais um dia. E procurar viver o mais plenamente possível nosso tempo aqui na Terra. Dar bom dia aos familiares queridos, aos amigos de longe, agora na pandemia pelo menos de forma virtual. Como devemos agradecer à inteligência humana que nos proporcionou  esses contatos que nos aquecem o coração. Podemos localizar cada um no momento exato.

Mas as redes sociais também servem ao Mal. Disseminam inverdades, falsos testemunhos, crises políticas e até familiares. E as CPIs continuam revelando-nos o lado negro do Poder.

Mas o mês de agosto está-se despedindo. E ele até que foi bem bom, contrariando a fama de ser de mau agouro. A primavera já está acenando com flores novas nos canteiros. E nas primeiras horas do dia, os passarinhos nos acordam com seus trinados. Os dias estão ficando mais longos, e as noites encurtam. Sinal de que o que Deus criou continua perfeito.

Louvado seja nosso Criador que nos deu a vida e o tempo necessário para desfrutar e agradecer.