Alguns anos atrás, trocando de canal na TV, assisti o início de um filme chamado “A bússola de ouro”. Além da estória, me chamou a atenção a forte crítica à Igreja. Pouco depois, descobri que este filme era uma adaptação de um livro de mesmo nome, o primeiro da trilogia Fronteiras do Universo, escrita por Philip Pullman. Os outros dois livros são A faca sutil e A luneta âmbar.

Tive interesse em ler esses livros, mas, em um primeiro momento, acabei deixando essa ideia de lado. Até que, em 2019, li um artigo publicado por uma revista dos Estados Unidos, e descobri que, naquele país, houve uma tentativa por parte de pais conservadores de banir Fronteiras do Universo das bibliotecas das escolas. Eles não queriam que seus filhos tivessem contato com essas obras.

Mas por quê? Foi isso que me propus a descobrir. Apesar de ser dividida em três livros, Fronteiras do Universo conta uma única estória, como ocorre em O senhor dos anéis, por exemplo. Por isso, para evitar qualquer possibilidade de spoiler, me limito a falar sobre o enredo de A bússola de ouro. Mas faço dois comentários que dizem respeito ao que será narrado nos outros livros: (1) estou apaixonada pela sociedade dos Mulefas; e (2) espero que o nosso mundo dos mortos – se ele existir – seja bem diferente daquele da trilogia.

As obras vão seguir a jornada de Lyra em um mundo muito parecido, mas bem diferente do nosso. Ela é uma criança que cresceu na faculdade Jordan, em Oxford, rodeada por catedráticos e tendo como melhor amigo seu deamon (sua alma), Pantalaimon. Há algo de especial em Lyra, e muitos dos adultos sabem disso. Inclusive, uma profecia fala sobre ela.

Logo no início, Lyra salva a vida de lorde Asriel ao impedir que ele beba o vinho envenenado oferecido pelo Reitor da faculdade. O Reitor é ligado à Igreja, que controla tudo através do Magisterium, e lorde Asriel fez descobertas sobre o Pó que podem comprovar uma teoria contrária às “verdades” da Igreja.

Pouco tempo depois, Lyra é levada de Jordan por uma mulher, a Sra. Coulter, que se diz amiga de lorde Asriel. Antes que ela parta, o Reitor lhe entrega um aletiômetro, um objeto de formato circular, feito de ouro e cristal, e que traz respostas verdadeiras. Ele pede a Lyra que não conte a ninguém que possui aquele objeto, principalmente à mulher.

Antes disso – não se sabe exatamente quando –, crianças começam a desaparecer por todo o país, e muitos boatos passam a circular. Mas o que a Igreja tem a ver com isso? Tudo! Por que a Igreja está sequestrando crianças? O que é o Pó? Siga Lyra e ela te mostrará.

Senti a leitura de A bússola de ouro um pouco truncada, principalmente nos primeiros capítulos. Mas acredito que isso se deva ao fato de ter visto um pouco do filme. Às vezes, tinha a sensação de que sabia o que ia acontecer, e ansiava chegar lá. A experiência com A faca sutil e A luneta âmbar foi bem diferente. Apesar disso, não são obras daquelas que o leitor devora rapidamente, elas fazem parar e refletir por um bom tempo.

 

Referências:

PULLMAN, Philip. A bússola de ouro. Tradução de Eliana Sabino. 2ed. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2017. 344p.

______. A faca sutil. Tradução de Eliana Sabino. 2ed. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2017. 288p.

______. A luneta âmbar. Tradução de Ana Deiró. 2ed. Rio de Janeiro: Suma, 2017. 504p.