Terminei a coluna da semana passada prometendo falar sobre o público das estórias de fadas. Bem, para muitos, a resposta pode parecer óbvia: as crianças. Mas será que só elas podem ler esses contos? Só elas se divertirão com a leitura? Será que essas estórias não dizem nada aos adultos?

Para Tolkien, as estórias de fadas são para todos. No ensaio “Sobre estórias de fadas”, ele diz que esses contos são os mitos destinados ao público contemporâneo, pois são eles que agora trazem os ensinamentos que necessitamos para a vida. Um dos exemplos que Tolkien cita é os contos sobre o Rei Arthur, e é um livro que reúne alguns deles que indico hoje: Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda, de Howard Pyle.

Esta obra é divida em duas partes. Na primeira, são reunidos contos sobre o Rei Arthur, narrando, por exemplo, como ele foi reconhecido como o verdadeiro rei da Bretanha; como conheceu sua esposa, Guinevere; e como conseguiu sua espada, Excalibur, dentre outras aventuras. Na segunda, são contadas algumas estórias sobre três personagens chamados ali de “homens notáveis”: Merlin, Sir Pellias e Sir Gawaine, dois cavaleiros da Távola Redonda.

Algo que me chama a atenção e me diverte nas obras com a temática da cavalaria é a educação dos cavaleiros mesmo durante as brigas. O cavaleiro de uma corte, salvo algumas exceções – como é possível ver em Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda –, é um homem honrado e muito respeitado, tanto por reis como por seus pares e o povo. Então, é comum que, mesmo quando estão prestes a lutar, sigam chamando-se de senhor, e até que o perdedor se sinta melhor por aquele que o derrotou ser reconhecidamente um grande cavaleiro.

E lembram que eu falei no início sobre a afirmação de Tolkien de que essas estórias nos trazem ensinamentos para a vida? Em muitas delas, isso é feito de modo implícito, mas, nessa obra, Howard Pyle o faz diretamente, deixando mensagens aos leitores. Cada uma delas contém algo que o autor acredita que nós devemos aprender com as estórias que contou.

Bem, os livros foram escritos para serem lidos por todos aqueles que queiram, não importa idade, gênero, classe social, quanto dinheiro tenha (ao contrário do que foi afirmado pouco tempo atrás…), nada disso. A única coisa que importa é a vontade de ler. Então, leia o que quiser! E concordo com Tolkien quando ele diz que as estórias de fadas nos trazem ensinamentos. Se você ler alguma, acredito que também concordará.

 

Referências:

PYLE, Howard. Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Tradução: Vivien Kogut Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 328p.