Há mais ou menos duas semanas, li Mary Poppins, de P. L. Travers. A edição que tenho, publicada pela Editora Zahar, traz as ilustrações originais feitas por Mary Shepard, e uma Apresentação assinada pelo tradutor, Joca Reiners Terron. O título da coluna, tirei dessa apresentação. É um comentário feito sobre uma tia de P. L. Travers, Ellie, quem cuidou dela e de suas irmãs quando a mãe, Margaret Agnes Morehead, ficou incapacitada após a morte do marido, Travers Robert Goff.

A estória começa com uma apresentação dos personagens em que a autora aproveita para explicar que a babá da família Banks abandonou o trabalho sem aviso. Então, como que trazida pelo vento, Mary Poppins aparece na casa dos Banks. Os filhos mais velhos dessa família – Jane e Michael – observam escondidos enquanto a mãe conversa com a nova babá, e percebem que há algo diferente nela quando, ao subir as escadas, Mary Poppins desliza corrimão acima. Esse algo diferente, eles poderão confirmar um pouco mais tarde: quando a babá abre a grande mala que carrega, Jane e Michael vêm que ela está vazia, mas logo Mary Poppins começa a tirar vários objetos de lá.

Mas há outras coisas que eles não sabem, como, por exemplo, que ela tem o poder de se comunicar com os bebês e os animais, entendendo-os e sendo entendida por eles. Esse tipo de coisa me fez pensar se Mary Poppins se encaixa na teoria sobre estórias de fadas de Tolkien. (Já faz um ano que não estudo o tema, mas ele não sai de mim. Será que um dia sairá?) Não comentarei muito para não correr o risco de dar algum spoiler. E também não cheguei a uma conclusão definitiva, mas me arrisco a dizer que a resposta talvez seja não, tendo em vista que se passa no mundo real, não no das fadas. Apesar disso, é possível identificar elementos fantásticos nas estórias.

Mary Poppins pode ser encarado como uma coletânea de contos sobre os mesmos personagens, pois os capítulos têm certa independência entre si, mantendo uma (pelo menos aparente) ordem cronológica. Se o leitor decidir saltar algumas páginas e começar a leitura pelo capítulo 14, por exemplo, não terá nenhum problema para compreendê-lo.

Outro destaque que faço sobre a Apresentação desta edição é que, ali, é dito que P. L. Travers não achava que Mary Poppins fosse baseado em sua infância. E pode realmente não ser. Pode que essa intenção sequer tenha passado pela cabeça da autora. Mas acredito que ela (onde quer que esteja) terá que dar o braço a torcer e admitir que “seca e dura feito um cabo de vassoura” cai como uma luva para Mary Poppins…

 

Referências: TRAVERS, P. L. Mary Poppins. Ilustrações de Mary Sheppard. Tradução de Joca Reiners Terron. 1ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. 232p.