Dizem que de boas intensões o inferno está cheio. Boas intensões podem ser, também e naturalmente, boas ideias. Pois eu que ando fazendo quase nada, pensando na vida, no mundo e na vida dos outros, falando mal do prefeito e do governador, noutro dia próximo passado, tive uma grandiosa ideia: que tal desligar os tubos do “politicamente correto” e chutar o balde, soltar pro campo, deixar que abiche com uma lata na cola, etc.?

Tem muita gente boa e de nível intelectual dos maiores que precisa de dar uns babadas num velho baseado para ficar numa boa; outros tantos que não abdicam de cheirar uma fileira para buscar uma energia diferente; um sem número de viandantes que precisam de um bom trago para libertar os bichos e adquirir autoconfiança; outro grupo de gente boa que usa cigarro como uma bengala. Seria como arrumar um jeito de criar coragem para pedir uma moça em casamento nos antigamente. Era uma briga medonha para enfrentar o futuro sogro de cara limpa e apresentar suas intensões. Eram dias e dias de treinamento das falas.

Dia desses, me apareceu um antigo vizinho, pedindo dez reais para comprar uma pedra: “vou ser honesto contigo, preciso comprar um pedra ali na vila”. Perguntei o que aconteceria se ele não conseguisse queimar seu craque naquele dia, naquela hora. Me respondeu que “aí eu fico bem loco e saio a correr rua por aí”. Dei os dez mangos para ele acalmar a sua insegurança e não enlouquecer ali pela nossa vizinhança, perigando assustar os meus cachorros que cuidam da casa.

Neste ano, um dos filmes indicados ao Oscar tratava da atitude de quatro professores frustrados que resolveram se entregar ao vício do álcool para conquistar sucesso perante seus alunos e pares. Dopados ou anestesiados, criaram coragem para exorcizar os seus demônios interiores e puderam atuar com mais confiança e alcançar um desempenho satisfatório. Chegaram ao sucesso, quando bêbados. É mais ou menos a mesma coisa do sujeito casado que precisa se emboletar ou tomar um porre para poder enfrentar a jararaca quando chega em casa, ao fim de um dia de batalha.

A sempre benfazeja elite social discute a validade desses procedimentos, que podem transmitir a ideia da sublimação do vício das drogas, da dependência, porque um grande número de pessoas precisa de um estimulante danoso à saúde para se tornar normal. E isto também não é normal, e estaria sendo validado, justificando o cometimento da transgressão social. Sem considerar os danos à própria saúde e nem analisar os seus efeitos. Ou defeitos.

Então, pensei que, se eu saísse por aí espalhando a minha descrença nessa vidinha pacata e rotineira da maioria, eu não estaria transgredindo majoritariamente aos parâmetros da sociedade civilizada. Quando muito, pedindo que “paren el mundo que me quiero bajar”. Fui…