Era inverno na Polônia, manhã de 24 de dezembro de 1943. O mundo estava em guerra, e uma pequena família polonesa, separada pelos temíveis soldados da SS e levada ao campo de concentração nazista Auschwitz, procurava alguma maneira de celebrar o Natal. A mãe Ewa, o pai Haskel e os filhos Anninka e Oton foram separados em pavilhões com alas masculinas e femininas. A mãe e a filha adolescente buscavam uma alternativa para conseguirem celebrar essa data juntos.

Mas havia alguns problemas, a mãe estava com tuberculose, e Anninka tinha somente 30% da sua visão. Apesar de todos esses obstáculos, a vontade de ter pelo menos um único momento feliz em família naqueles tempos sombrios era mais alta. Por volta do meio-dia, enquanto estavam no pátio cumprindo suas tarefas, Oton e Ewa encontraram-se aos fundos de um dos pavilhões. Não havia muitos soldados no campo na época do Natal, eles costumavam voltar para suas cidades para comemorar a grande ceia com suas famílias.

‒ Fique tranquila, mamãe, nosso Natal será mágico! – diz o garotinho de seis anos, que abraçava sua mãe enquanto ela chorava.

‒ Meu querido, vamos conseguir ‒ respondeu ela.

‒ Eu posso pegar uns copos do nosso pavilhão ‒ diz o menino, após mais algum tempo de conversa.

‒ E eu vou tentar pegar alguma comida – promete a mãe.

O pai, por passar a maior parte do tempo com os músicos da banda do campo, conseguiu as velas.

A grande noite chegou, a neve caía impiedosa. Ewa e Anninka, ainda com os olhos bem abertos e os lábios roxos de frio, esperavam a hora certa para sair do pavilhão. Somente próximo às duas horas da manhã é que puderam escapar às escondidas. Oton e Haskel também saíram do seu alojamento por essa hora. O local da reunião seria o mesmo em que o menino e a mãe se encontraram mais cedo.

Quando finalmente se juntaram, os sorrisos voltaram aos rostos dos quatro. O frio havia ido embora, e o calor daquele abraço é que predominava. O pai acendeu as velas no chão gelado, e a mãe distribuiu a precária comida nas mãos de cada um. Depois oraram, agradecendo por estarem juntos em uma data tão simbólica.

O Natal é tempo de estar com quem amamos, para refletir histórias, comer e aproveitar a companhia de entes queridos, independente do lugar em que estejamos.

Pela manhã, os corpos de todos da família foram encontrados no local da ceia. Morreram de frio na noite de Natal.

 

Obs.: Texto escolar de Maria Eduarda de Castro, minha filha e herdeira, inclusive, de certos dons. Dentro de poucos dias, haverá um Natal de novo, aproveite.