Por Tisa de Oliveira

A filha do meio do Luiz e da Valdirene – ele, um pequeno agricultor; ela, do lar –, moradores das Minas do Camaquã, costumava correr campo a fora quando criança. De corpo esguio, deixava os irmãos e primos para trás nas brincadeiras de pega-pega. Literalmente, comiam poeira. Thainá Alves de Oliveira, hoje, é uma atleta que está despontando. Ela participa de competições desde 2016.

O incentivo para treinar partiu do professor de Educação Física, Aparício Félix Neto, que viu potencial na menina de 10 anos. Ela levava vantagem sobre alguns alunos.

“A conheci em 2012, quando comecei a lecionar na Escola Estadual de Ensino Médio Prof.ª Gladi Machado Garcia, nas Minas do Camaquã. Percebi que, em certas brincadeiras, nas aulas de Educação Física, ela se destacava dos demais. Os primeiros treinos tinham como foco os Jogos Escolares Caçapavanos (Jesca)”, conta o professor.

No final de 2018, Thainá iniciou os treinamentos pela Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), onde por dois anos desenvolveu e aprimorou suas técnicas.

“O convite surgiu a partir da seletiva nacional, quando encontramos a professora Martina, que comandava os treinamentos do Sub-14 na Sogipa. A Thainá participou de provas de pista, nos 250 e 1000 metros Sub-16, e ficou com o quinto melhor tempo do Brasil. Agora, na Sub-18, estamos fazendo uma reavaliação pós-pandemia para ajustar as provas ideais. Participamos do Estadual Sub-18 em Porto Alegre, onde ela correu três provas: os 3000 metros, em que sagrou-se vice-campeã; os 200 metros, em que ficou em 4º lugar; e os 4×400 misto, em que participam meninas e meninos na mesma prova”, destaca Aparício.

Rotina de atleta

Thainá está com 16 anos e frequenta o segundo ano do ensino médio em Minas do Camaquã. Ela tem uma rotina rígida. Pela manhã, os treinos iniciam às 9h30min, com a supervisão do professor Aparício, de segunda a sábado. Quando chega em casa, ajuda nas tarefas domésticas, almoça e vai para a escola.

“Os dois anos na Sogipa fizeram com que eu evoluísse. Hoje, estamos com uma parceria pela UFSM [Universidade Federal de Santa Maria], e já começamos os treinamentos e competições. Por enquanto, treino na minha casa, no interior das Minas do Camaquã e, semanalmente, faço treinos orientados pelo professor, no Areião. Meu treinamento de força é realizado no CT Andréia Souza”, conta Thainá.

Atleta perdeu patrocínios na pandemia

Thainá já participou do Jesca, dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs), dos Estaduais Sub-14 a Sub-20, da Seletiva Nacional, do Brasileiro e da Convocação pela CBAT para os Jogos Sul-Americanos Escolares. Tem vários títulos estaduais, quinta colocação no Brasileiro e, por problemas de saúde, não competiu no Sul-Americano.

“Já tivemos apoio, mas devido à pandemia, perdemos as ajudas. Elas são muito importantes para suprir os gastos com alimentação, viagens e vestuário esportivo. Para os treinamentos em Caçapava, faço o deslocamento no meu carro; nas competições, precisamos ir de carro próprio até o local da saída dos atletas”, relatou Aparício Félix Neto.

Segundo o professor, Thainá é dedicada, disciplinada e tem um imenso potencial. Os planos são seguir com treinamentos intensivos para que volte ao nível em que estava.

“Minha família e meu professor me incentivam muito. Vou seguir treinando para melhorar os índices e ser convocada novamente pela Confederação Brasileira de Atletismo”, afirmou Thainá.

CMD oferece escolinha de atletismo para crianças e adolescentes

O projeto Correndo para o Futuro foi uma das 24 iniciativas contempladas no Edital 01/2019 Pró-Esporte RS FEIE Novas Façanhas no Esporte, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. O objetivo é a criação de uma escolinha de atletismo para beneficiar crianças e adolescentes de Caçapava, na faixa etária entre 11 e 14 anos.

Idealizado pelo atleta Eduardo Zago e pela professora Valdirana Zago, era um sonho antigo de ambos trazer o atletismo para a cena do esporte no município. Quando o edital – que financia iniciativas nessa área – foi lançado, a convite deles, a responsável pela Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial (Compir), Catia Cilene Morais Dutra, apresentou a proposta. Ela também é executora e fiscalizadora do Correndo para o Futuro.

“É um projeto incrível, e o primeiro na cidade, totalmente gratuito. As crianças têm a oportunidade de desenvolverem e vivenciarem a prática do atletismo, esporte que oferece grandes possibilidades, considerando os inúmeros talentos na nossa cidade, entre eles o Assis Paz, o Anderson Henriques e a Thainá Oliveira. Temos, nesses atletas, a inspiração e o exemplo de dedicação, porque esporte exige determinação e muita força de vontade”, avalia Catia.

Como irá funcionar o projeto

O programa será desenvolvido por um período de nove meses, em parceria com a UFSM, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa), a Prefeitura, o Geoparque Caçapava, a Associação dos Corredores de Rua de Caçapava do Sul (Ascorca) e a Tibusco Radical Esportes. Os alunos poderão treinar e conhecer modalidades esportivas como a corrida (velocidade, meio-fundo, fundo, barreiras, obstáculos e revezamentos), os saltos (em altura, em distância e triplo), arremesso de peso e lançamentos de disco e de dardo. Neste período serão realizadas três competições esportivas internas.

“O projeto é para a comunidade, é uma maneira de incentivar a prática esportiva para crianças e adolescentes. O atletismo é a base para outras modalidades, mas não tem tanta visibilidade e investimento aqui no município. É fundamental que as nossas escolas sejam parceiras no projeto. O esporte traz diversos benefícios, tanto para a saúde física e mental, quanto na questão de inclusão social. Sabemos como a difusão da internet e a facilitação de acesso a redes sociais e jogos afeta a saúde física e mental da nossa juventude, e temos ciência também do contexto social ao qual estamos inseridos. Acreditamos no atletismo como ferramenta para inclusão, promoção de igualdade e fomentação da autoestima”, enfatiza Eduardo.

O atleta destaca ainda que a ideia é oferecer uma atividade esportiva além do vôlei e do futebol para que as crianças se desenvolvam mental e fisicamente, e se tornem cidadãos mais saudáveis e capazes de lidar com a vida, ou até mesmo futuros atletas.

“Pesquisas apontam que a idade ideal para o desenvolvimento de habilidades esportivas (atletismo) é entre os 10 e os 13 anos, e demonstram que indivíduos que não lapidaram suas habilidades nesta idade, majoritariamente, não conseguem alcançar seu máximo potencial genético dentro do esporte na vida adulta. Quando pensamos que daqui saíram vários nomes dentro do esporte, e que todos eles iniciaram tardiamente, nos perguntamos: o que será que podemos ter perdido? Quantos mais surgiriam, e aonde teriam chegado os nossos melhores atletas se o atletismo fosse desenvolvido desde cedo, como o futebol?”, questiona.

As inscrições para o Correndo para o Futuro são gratuitas e devem ser realizadas junto ao Centro Desportivo Municipal (CMD), no Ginásio de Esportes Melão, das 9h às 15h. Os alunos devem comparecer acompanhados dos pais ou responsáveis e com um atestado de frequência escolar e xerox do RG ou Certidão de Nascimento. A professora Valdirana é a coordenadora técnica, enquanto Valéria Lima responde pelo treinamento. Informações sobre a escolinha de atletismo podem ser obtidas pelo telefone/WhatsApp (55) 3281-1050.

Foto: arquivo pessoal