Eleições de 2020 serão um teste às estratégias do TSE e à alfabetização digital dos brasileiros, no país que é um dos recordistas no consumo de informação mentirosa

Jornalista caçapavano Marcelo Barcelos

Comportamento inautêntico coordenado. Robôs. Disparos em massa. Olhando assim, até parece que estamos diante de um enigma de ficção científica, não é mesmo? Verdade seja dita, estamos mesmo, mas de um desafio digital cada vez mais complexo e sofisticado que envolve uma espécie de indústria de notícias falsas.

A pandemia da desinformação que assola do Brasil, especialmente de 2018 para cá, com as eleições presidenciais, expôs uma realidade dura: nós, brasileiros temos baixíssima alfabetização noticiosa. Segunda uma pesquisa realizada pela Kaspersky, empresa global de cibersegurança, 62% dos brasileiros não sabem identificar uma notícia falsa.

Mas o que isso significa? Significa, em termos gerais, que temos um reduzido grau de discernimento entre o que é notícia de verdade, fato, e o que é boato, distorção ou manipulação, quadro que só piora num cenário de sobrecarga informacional. Esta é a condição perfeita para que grupos maliciosos e milícias digitais criem notícias falsas, prejudicando a formação da opinião pública. Essas “notícias” geralmente atuam direto no sistema de crenças (infância, igreja, família, sexualidade, tradição, educação e todos os códigos morais e culturais que são importantes para a vida em sociedade).

Por isso, repercutem muito rápido e geram fascínio imediato: falam de absurdos, têm títulos extravagantes e sensacionalistas, não apresentam fonte, acusam com veemência um opositor, reposicionam fatos passados no presente e, assim, atribuem falas, feitos e críticas a quem nunca os fez. O resultado: um universo paralelo, uma realidade prejudicial à cidadania e à já tão frágil democracia brasileira. Todos perdemos.

Não é à toa que as principais plataformas (Twitter, Facebook, WhatsApp e Google) estão sendo pressionadas, e com razão, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a adotar uma agenda eficaz de remoção de mentiras, distorções e cancelamento de contas que têm comportamento chamado inautêntico coordenado, os chamados perfis falsos, usados para circular mensagens em massa, o que é, inclusive, proibido por lei.

Diante de tudo isso, caçapavano que sou, repórter-fundador da Gazeta, além jornalista e pesquisador, separei algumas informações que podem, de forma prática, ajudar a você, eleitor/a, a não cair na presepada das notícias falsas. Agindo com responsabilidade, denunciando e priorizando o bom jornalismo, as chances de termos uma cidade mais justa e igual serão muito maiores. Vamos nessa?

Sobre campanha digitais 

Pode, sim! 

Segundo o TSE, só candidatos, partidos ou coligações podem impulsionar publicações, ou seja: pagar para que a suas mensagens circulem mais.

Não pode! 

Está totalmente proibido fazer disparo de mensagens em massa, como ocorreu nas eleições presidenciais de 2018. Denuncie!

Dicas pra votar e se informar com segurança 

  1. As páginas dos candidatos devem ser certificadas, isto é, devem ter registro de candidatura que atesta a autenticidade daquele perfil.
  2. Muito cuidado ao consumir/compartilhar montagens engraçadas, os memes, envolvendo candidatos. Esses materiais não são notícia e usam associações que não retratam a realidade, ok?
  3. Adote uma postura crítica, motivando amigos e familiares a agirem assim: desconfie de todo material que ler nas redes sociais e receber no WhatsApp. E verifique!
  4. Pesquise o tema/material em buscadores (Google, por exemplo) e veja se o mesmo assunto aparece em sites noticiosos confiáveis.
  5. Conheça o projeto Coalizão para Checagem-Eleições 2020, lançado ontem, 1, pelo TSE. Ali, estão trabalhando os sites Fato ou Fake, plataforma de checagem do Grupo Globo, AFP, Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, E-Farsas, Estadão Verifica e UOL Confere.
  6. Ah, e, antes de tudo, lembre-se de uma questão fundamental: opinião não é notícia!

 

Por Marcelo Barcelos

Jornalista (UFN), mestre e doutor em Jornalismo e professor (UFSC)