A estiagem que atinge Caçapava vem preocupando quem vive no interior do município. Segundo Lasier Garcia, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a entidade está levantando dados para apresentar às autoridades. O objetivo é a publicação de um decreto de emergência, como foi feito em outros municípios.

– O que mais está impactando para o agricultor familiar é a falta de água para uso humano, para os animais e para o desenvolvimento das plantas. Atualmente, são 277 famílias do interior que estão recebendo água nas suas residências, como na Vila Progresso e na Picada Grande – informou.

Conforme Garcia, há três anos os produtores vêm sofrendo com estiagens. De acordo com ele, já se percebe o impacto no desenvolvimento das plantações, e muitos agricultores não conseguiram plantar porque o solo estava muito seco. Na pecuária, ele cita problemas com as pastagens de verão, que não se desenvolveram por falta de chuva, o que vai causar falta de alimento para o gado.

– Tivemos algumas chuvas localizadas, mas de volume baixo, que não resolve a recuperação hídrica das propriedades. O município precisa ter uma estrutura para atender o pecuarista familiar, para fazer açudes e reservatórios. E nas regiões populosas, são necessários poços artesianos. A população aumentou muito, e as estruturas não acompanharam esse crescimento – observa Lasier Garcia.

Segundo o presidente, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais está pedindo a anistia das sementes subsidiadas pelo Governo do Estado, pois, com a estiagem, os produtores irão plantar, mas não irão colher. Também será pedido um desconto nos financiamentos para agricultura e pecuária.

– Estamos muito receosos de que, lá no final da safra, não vá fechar a conta do agricultor, ele não vai ter dinheiro para pagar os empréstimos de custeio e investimento – declarou.

 

Lavouras já mostram perdas

 

A Gazeta também ouviu a Cooperativa Tritícola Caçapavana (Cotrisul) sobre os impactos da estiagem nas lavouras de soja, arroz e milho no município. Segundo o engenheiro agrônomo e gerente técnico da Cotrisul, Fábio Rosso, já é possível notar prejuízos principalmente nas primeiras culturas plantadas e sem irrigação, como a soja e o milho.

– Hoje, estima-se uma perda entre 10% e 20%, porém, estamos chegando a um ponto crítico da cultura da soja. Pelo volume plantado, é ela que trará os maiores prejuízos se não voltar a chover normalmente. O arroz está como gosta, “água no pé e sol na cabeça”, mas precisa se manter sempre com água, e os volumes em rios e barragens estão baixando rapidamente. Por isso, é necessária a regularização dos volumes pluviométricos – alertou.

Sobre as plantações de milho em Caçapava, Fábio Rosso relata que as lavouras em geral são pequenas, voltadas ao consumo nas propriedades, mas apresentam prejuízos consideráveis. De acordo com ele, no momento a situação no município é de alerta.

– Se voltar a chover regularmente, poderemos ter uma produção entre regular e boa, comparando com as médias da região. Se tivermos mais ou menos 15 dias sem chuvas, teremos uma grande perda, pois as lavouras estão passando para os estágios reprodutivos da cultura – explicou.

 

Prefeitura e entidades monitoram a situação da estiagem

 

Na quarta-feira, dia 05, o prefeito em exercício, Luiz Guglielmin (PSDB); a secretária de Agropecuária, Indústria e Comércio, Michele Mendes; o coordenador da Defesa Civil, Gilnei Marques; o presidente do Sindicato Rural, Christian Schievelbein; o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Lasier Garcia; e os representantes da Emater, Guilherme Fernandes, e da Cotrisul, João Batista Acunha, se reuniram para debater a possibilidade de emitir um decreto de situação de emergência e decidiram que ainda não é necessário.

– A posição do Sindicato dos Trabalhadores Rurais é de que já deveríamos ter decretado, porque os pequenos produtores vêm sofrendo há três anos com a falta de chuva. Tivemos a pandemia, quando os produtores produziram e não conseguiram vender. Estão sem receita nas propriedades. Precisamos que seja decretado o mais rápido possível porque a demora dos recursos é de cinco a seis meses, e, quando eles vêm, o impacto já aconteceu – disse Lasier Garcia.

Segundo notícia publicada no site da Prefeitura (disponível em https://bit.ly/34fIgeK), na reunião, a secretária Michele Mendes informou que, atualmente, são distribuídos aproximadamente 15 mil litros de água potável a 277 famílias do interior do município e que, se não houver um grande volume de chuva, muito em breve esse número poderá passar de 400.

À Gazeta, a Emater informou que ainda não foi possível quantificar as perdas, e que as lavouras de soja (principal cultura hoje em Caçapava) não têm perda significativa até o momento, pois estão em uma fase vegetativa e, se voltar a chover, é possível que se recuperem. A estimativa é de que a quebra da produção de soja seja de 5% a 10% da produtividade, o que, de acordo com a Emater, não é suficiente para um decreto de situação de emergência.

O engenheiro agrônomo da Cotrisul, Fábio Rosso, concorda que ainda não há subsídios suficientes para declarar a situação de emergência.

– Estamos em situação de alerta, pois, voltando as chuvas, conseguiríamos uma produção média/regular – declarou.

 

Presidente da FecoAgro pede decretos de emergência

e licenças para armazenagem de água

Por Nestor Tipa Júnior/AgroEffective (adaptado)

A safra gaúcha de milho sequeiro tem quebra de 59,2% até o momento, enquanto no milho irrigado o prejuízo é de 13,5%. Para a soja, a perspectiva de perdas atual é de 24%, mesmo ainda com a semeadura em andamento. Os dados são da Rede Técnica Cooperativa (RTC) e divulgados pela Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS).

Segundo o presidente da federação, Paulo Pires, a chuva desta semana amenizou um pouco a situação das lavouras, mas os prejuízos são irreversíveis para os produtores.

– Este era o momento em que o produtor deveria se capitalizar, inclusive com preços que estão ajudando, mas os custos de produção serão muito altos e iniciamos de forma melancólica o 2022. Já existe uma mobilização das entidades para que tenhamos ações dos governos federal e estadual no sentido de socorrer o produtor – declara.

O dirigente ressalta que é importante que os municípios façam os decretos de emergência neste momento.

– Em 2020, produtores de 200 municípios não conseguiram acessar o socorro do governo federal porque não tinham o decreto de emergência. É importante que os prefeitos agora se dediquem a isto – alerta.

Entre as medidas solicitadas, conforme o presidente da FecoAgro/RS, estão a transferência de dívidas financeiras dos produtores, principalmente as que vencem no primeiro semestre, além de uma política clara de armazenagem de água.

– Nós temos um volume de chuva no Estado, durante o ano, muito alto. Se conseguirmos as licenças que hoje não permitem que a gente faça esta armazenagem em APPs, teremos uma grande área irrigada. Hoje, está sendo trancada por questões de cunho jurídico, e tecnicamente sabemos que não traz problemas para o meio ambiente. Onde temos água armazenada, temos uma floração fantástica tanto da vida animal quanto vegetal – complementa.

Foto: Heron Freitas