Em 03 de abril, a escritora paulista Lygia Fagundes Telles nos deixou, aos 98 anos – ou 103, como afirma o genealogista Daniel Taddone. Mas pouco importa a idade que ela tinha ao falecer. O que importa é o legado que fica para a literatura brasileira.

Eu gostaria de falar sobre muitas obras de Lygia, mas uma coluna só não seria suficiente. Então, nesta singela homenagem a esta incrível autora, falo sobre um conto que me marcou – e, acredito, a uma aluna também –: “Venha ver o pôr do sol”.

A mim, esse conto marcou por dois motivos: a trama criada por Lygia, daquelas que prendem o leitor; e a reação de uma aluna – aquela que citei antes – quando trabalhei com ele em sala de aula. Acredito que já tenha falado sobre isso aqui, então serei breve: após eu deixar como tarefa para uma turma de 1º ano do ensino médio a leitura deste conto, na aula seguinte, uma aluna me questionou por que eles não liam “só coisas boas assim” (palavras dela). Acho que essa reação “vende” melhor o conto do que qualquer coisa que eu possa dizer, afinal, a gente sabe como é difícil agradar adolescentes, ainda mais com o tema de casa…

E não é que o que eles tenham que ler seja ruim (na minha opinião), mas são estilos e linguagens diferentes, que não atraem tanto nossos jovens quanto os livros que eles costumam ler. De minha parte, fiquei muito feliz por ela ter descoberto que poderia encontrar, na literatura brasileira, algo que a agradasse tanto.

Em “Venha ver o pôr do sol”, Lygia nos leva ao último encontro do casal Raquel e Ricardo. Eles já estão separados, Raquel já tem um novo namorado, porém Ricardo insistiu nesse último encontro… …em um cemitério abandonado. Mas tudo bem… Ele só quer mostrar a ela “o pôr do sol mais lindo do mundo” (p. 34), no jazigo de sua família.

Ricardo, na verdade, não aceita o fim do relacionamento. Nessas circunstâncias, quais as chances desse último encontro terminar bem?

 

Referência:

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr do sol. In.: ______. Venha ver o pôr do sol e outros contos. 1ed. São Paulo: Ática, 2008. p. 33-44.