As opiniões divergem. Os otimistas imaginam que o flagelo da pandemia está ensinando aos humanos a viverem melhor, com mais simplicidade, empatia e desprendimento.  Ao contrário, há os que pensam no apocalipse, que o mundo que conhecemos vai terminar.

Fico no meio termo do que será nosso mundo amanhã. Se muitos aprenderam a lição – rever velhos hábitos, mudar os costumes de consumismo e de acumuladores, de fortalecer o respeito à natureza, do emprego do bom senso, da ciência e tecnologia, para a preservação do meio ambiente, muitos não estão nem aí. Continuam poluindo as cidades, consumindo, devastando e queimando campos e florestas.  Porque seu interesse é o poder, a riqueza, o privilégio de todos os confortos, sem pensar no que vão deixar às novas gerações. Para eles é apenas o hoje e seu egoísmo.

Estou vivendo momentos especiais na minha quarentena. Na casa de um filho e de sua amada esposa, não me sinto nada só. No gozo de cada momento do convívio, conversando sobre a vida e nossa missão aqui na Terra. Escolhendo filmes que tragam mensagens positivas, de antirracismo e de libertação. Alguns nos fazem chorar. É bom, lavam a alma e dão-nos a esperança de um novo mundo sem fronteiras de raça, cor, gênero, ideias.

Sua casa, tão sonhada, planejada e agora uma feliz realidade, está no meio de tantas outras de mesmo estilo, idênticos planos e iguais expectativas. Plantada num condomínio recém-loteado e muito bem arquitetado, parece uma paisagem do futuro.  Casas geralmente pequenas em pequenos terrenos, onde cabem um jardinzinho ou mini-horta e espaço para garagem. Nenhuma parede ociosa, sala ampla junto com a cozinha, dois quartos e para quê mais? Talvez seja reserva para um novo “habitantezinho”. Ou, quem sabe, para quando uma das sogras vem visitá-los.

As ruas já asfaltadas, construções em andamento, cada uma tem um número, por enquanto. E ao fundo uma floresta,  que agora é uma reserva. Não sei até quando, pois a cada dia novas quadras são abertas, e novas construções vão surgindo.

Gosto de acordar – não tão cedo que possa ouvir os pássaros saindo do ninho – e ouvir as conversas dos operários da obra aqui ao lado, alguns assobiando enquanto o trabalho segue com toda a sua disposição. Pois são alegres, chegam de moto, pontuais, e à tardinha saem contentes por mais um dia vencido. Devem estar dando graças a Deus e às prescrições do isolamento social que permitem permanecerem no emprego.

Imagino – e desejo – que será esse o futuro de amanhã: sem desperdício, funcional, vizinhos se encontrando e trocando gentilezas, empregos homework e toda essa tecnologia que ainda está garantindo emprego nesta crise. A vida do lar sendo mais valorizada, as relações humanas num crescendo de compreensão e solidariedade.

Ainda não contei o final, que será a cereja do bolo: o condomínio fica no Laranjal, e poucas quadras o separam da Lagoa. Seus habitantes têm o fim de semana todo para curtir a orla, bater fotos da beleza do céu, da água bem azul e das árvores que fazem a moldura do quadro.

Não será um futuro maravilhoso?

Anna Zoé Cavalheiro