Hoje, entristecida com a notícia de que a Feira do Livro de Caçapava pode acabar, sigo falando de obras nacionais. Novamente, trata-se de um livro que chegou até mim como leitura obrigatória de uma disciplina do mestrado e se tornou um de meus preferidos, daqueles que avançamos cada vez mais rápido porque precisamos saber o que aconteceu/acontecerá.

Sinfonia em branco me apresentou à escritora Adriana Lisboa, uma das muitas que sonhei, um dia, poder ver aqui na cidade, contribuindo com seu trabalho para o enriquecimento cultural de nossa comunidade. A obra aborda um episódio traumático e suas consequências. Intercalando presente e passado, conta a história de duas irmãs, Clarice e Maria Inês, mostrando com muita fidelidade a forma como um estupro pode afetar a vida da vítima e de seus familiares. Mostra também que, muitas vezes, o criminoso está mais próximo do que se imagina, e que é uma pessoa de quem nunca se desconfiaria.

Aos 13 anos, Clarice foi estuprada e se sente culpada por isso. Com 15, foi morar no Rio de Janeiro sob o pretexto dos estudos, mas, na verdade, o que queria era ficar longe do estuprador. Ela volta à terra natal para se casar com Ilton Xavier, quem havia namorado por correspondência enquanto viveu no Rio, mas após a morte do estuprador, Clarice, que sempre fora muito obediente, muda completamente.

Otacília, mãe de Maria Inês e Clarice, sabia o que acontecia, vivia com um peso por não poder proteger a filha, mas não podia fazer nada, pois todas elas dependiam do estuprador para sobreviver, o que é a realidade de muitas famílias onde este crime ocorre.

Maria Inês, ainda criança, presenciou o estupro da irmã. Neste dia, a raiva tomou conta dela, que, intimamente, jurou vingar-se. Seu ódio não foi dirigido apenas a ele, mas também à mãe por não proteger a filha. Ela tem a infância destruída pelo que vê, e passa a vida inteira com um sentimento de dever a ser cumprido.

Sinfonia em branco foi agraciado, em 2003, com o Prêmio Literário José Saramago, atribuído pela Fundação Circulo dos Leitores a jovens escritores de língua portuguesa. Também foi finalista do Prix des Lectrices (França) e do PEN Center USA Literary Awards (Estados Unidos), e publicado em Portugal, Alemanha, Itália, Romênia, Egito, Polônia, Turquia, Croácia, França e Estados Unidos.

Adriana Lisboa também recebeu o Prêmio Moinho Santista – um dos mais tradicionais no país – pelo conjunto de sua obra. Seus livros já foram publicados em mais de 20 países

 

Referência: LISBOA, Adriana. Sinfonia em branco. 2ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2013. 315p.