O analista deve sempre tomar todo o cuidado quando tem na mão um dado pontual, ou seja, um número único. Normalmente, este número deve ser comparado com outros do mesmo formato, com base temporal semelhante. Dificilmente um dado isolado vai dizer alguma coisa que seja mais que o momento. Até isto deve ser analisado, pois o momento pode ser atípico sendo difícil encontrar referências. Os dados e informações do ano de 2020 serão arquivados como excepcionais, e somente poderão ser comparados com outras crises de tamanho semelhante. Numa curva estatística, devem sempre ser observados os números que fogem muito da média, e estes devem ser desprezados, pois vão descaracterizar as projeções. Assim serão os números de 2020, analisados, estudados, mas desprezados quando da análise da década, ou utilizados na comparação com outras epidemias ou crises. Talvez sirvam também para medir a reação dos setores e da sociedade nos momentos de turbulência. Claro que tem aqueles que vão dizer que resultados específicos aconteceram devido as suas ações, principalmente no setor público. Já está circulando na mídia algumas pérolas! Falar em números é muito fácil, explicá-los é mais difícil e muitos evitam.

 

O ano de 2020 foi vilão?

Sempre é bom dizer que, em economia, tudo tem dois lados. Quando alguém ganha é sinal que alguém está perdendo. Quase sempre o que é bom para o produtor é ruim para o consumidor. Quando sobe o preço da carne, o pecuarista bate palma, e o consumidor se desespera. Num primeiro momento, ao olhar o ano de 2020, parece que ele foi um desastre para todo o mundo, pois a chiadeira foi generalizada. Porém, esmiuçando o todo, é possível perceber que, em alguns casos, ele trouxe benefícios e lucros. Claro que foram alguns podendo ser contados nos dedos. Vejamos o caso dos supermercados que superaram todas as metas previstas, vendendo bem mais do que o projetado antes da pandemia. Assim também foram as farmácias e os mercadinhos de bairro. Eletrônicos e eletrodomésticos tiveram ondas positivas nas vendas em virtude do fique em casa. Em alguns casos, faltaram produtos e até aumentaram significativamente de preço devido à procura. No que se refere a empregos, muitos perderam, mas setores em alta mencionados anteriormente contrataram além do esperado. A crise na saúde favoreceu o pessoal do setor, vindo inclusive a provocar a escassez, motivando contratações urgentes. Os números globais da economia foram ruins, mas alguns setores ou ramos ficaram numa boa. Claro que foi uma minoria, mas estes estão saindo da crise fortalecidos. Para alguém foi vilão, e para outro mocinho! A lamentar, as mortes que entristeceram a todos. É a vida!

 

Como será o 2021?

É bom lembrar que, no início de 2020, a perspectiva era de um crescimento econômico de mais de 2%. Logo no surgimento da epidemia, passou para -10%. Mas deve ser de -4%. No inicio deste ano, a expectativa era muito boa com a chegada da vacina, mas aí começaram as dificuldades. A produção é insuficiente para atender a demanda, fazendo com que a vacinação ficasse muito aquém do desejado. Com as festas de Final de Ano e mais o Carnaval, os números de positivos para a Covid aumentaram significativamente, causando um caos na saúde. Faltam leitos e profissionais. Surgiu também uma nova cepa, a P1, mais contagiosa e que veio alimentar a proliferação do vírus. Este é o quadro de hoje, bem diferente do vislumbrado no inicio do ano. Tudo isto traz um repensar nos rumos futuros da economia. Mais restrições de funcionamento das atividades econômicas estão sendo implantadas, e aquilo que parecia que tinha passado retornou. Menos funcionamento, menor produção e menor geração de renda. Tudo indica que este primeiro semestre está comprometido, sem alteração no ritmo da atividade econômica que já é baixo. Se boa parte da população for vacinada até julho, possivelmente o segundo semestre será melhor. Portanto, as perspectivas hoje a respeito do ano econômico de 2021 são pouco otimistas, indicando que, se ao invés do resultado negativo de 2020, o número for positivo, já está muito bom.

 

Pense

Otimismo é esperar pelo melhor. Confiança é saber lidar como o pior.