Conto-lhes, hoje, outra do nosso amigo aquele que mora lá na Meia Légua. Escutou pelo velho rádio de pilha duas notícias parecidas, sobre assuntos similares – as vacinas – que lhe embaralharam as ideias, desacostumadas das novidades midiáticas. A última que ficou sabendo com atraso foi que o Coronel não era mais candidato, depois que havia feito um sacrifício danado para encontrar o título de eleitor, já aposentado, naquela malinha velha que fica em cima do roupeiro, com a papelada antiga da partilha do campo e a certidão do casamento. Botou um voto fora e, ainda, gastou meio dia de serviço e uns trocados do auxilio emergencial para ir lá no Lagoão, onde ficava a sua mesa. Inclusive, pagou um “carro de praça”, uber  do vizinho, para levá-lo.

Pois ficou sabendo que a vacina da aftosa, antes obrigatória para o gado, agora não precisava fazer mais, mas outra, vinda da Conchinchina, para gente, agora era obrigatória, e que começaria pelo pessoal mais velho que nem ele. E ainda lhe disseram que quem não se vacinasse perderia a aposentadoria do INAMPS, aquela que lhe ajeitaram lá pelo Sindicato Rural, com duas testemunhas que lhe deram a despesa da gasolina e do almoço no dia da audiência na cidade.

Foi, já sem máscara, à primeira farmácia que conhecia para comprar a tal injeção para se ver livre logo daquilo e ir pra fora de novo, porque tinha uns bichos pra dar boia, e os gatunos andavam desaforados demais, esperando o morador sair de casa para fazer uma limpa nos pertences de maior valia.

Na Policlínica Municipal, ficou sabendo que ainda não chegara a sua vez, que as vacinas recebidas eram poucas, prioritárias para o pessoal da saúde e para o Prefeito tirar uns retratos, e que, quando fosse a sua vez, seria avisado pelo rádio através das Notícias da Caçapava ao meio-dia. Que deveria continuar usando máscara, se lambuzando no álcool gel e evitando aglomerações humanas. Quem não procedesse deste modo poderia ser multado por ordem do mesmo Prefeito.

Desconfiou do falatório. Desatou o colorado do pescoço e estendeu o “panuelo” do nariz pra baixo até o meio do peito, com um nó cego apertado na nuca, como se fosse uma bandeira do divino, em rebeldia diante de tanta enrolação dessas autoridades sanitárias da cidade. A vida estava ficando difícil, sem bailes, sem festas e sem carreiras ou rodeios, que é quando um teatino pode tomar uns tragos e dar umas risadas com os amigos. Que diacho!