Quem nunca sentiu medo de alguma coisa na vida que atire a primeira pedra. Por muitas vezes, nem sei contar as tantas, já senti medos diferentes, dependendo da situação e do que é que me infernizava os nervos. Já testemunhei muitas pessoas “colar as placas”, como se diz no quartel, diante de um travamento da capacidade de agir, em pânico.

Jamais esquecerei o primeiro serviço de sentinela em lugar ermo, em noite escura, de madrugada, com o fuzil embalado e o risco iminente de que o “inimigo” aparecesse. Ou o rapel de 40m de altura, naquelas pedras imensas do Parque de Itatiaia, cuja altura parecia infinita na primeira olhada para o fim da corda balançando lá embaixo. Ou o silêncio constrangedor no interior da selva amazônica, povoada de índios arredios e onças invisíveis, mas existentes e peçonhentos, quando até o ronco dos tratores gigantes se perdiam na imensidão apavorante. Ou no primeiro salto do trampolim de 10m, quando a última imagem do desespero foi o trem vagaroso se afastando da cidade de Resende ao longe. Ou ainda, e pior, na antessala de uma UTI em Curitiba, onde um filho agonizava e eu, incrédulo e impotente para trazê-lo de volta para a vida, chorava. Nunca aceitei a sua perda prematura e irracional, talvez uma fuga covarde.

Já passei por todas essas situações, e muitas outras de maior ou menor perigo que pude enfrentar com coragem, ou fugir por covardia.

Mas e o medo do COVID? Esse que afeta todo mundo, e invade a vida das pessoas sem cerimônia, avassalador, com jeitão de “torto em baile”, sem mais nem menos? Esse medo consentido em nome da preservação da espécie humana, que enclausura velhinhos, afasta os parentes de conviver, dinamita amizades, aliena pessoas no “home office” e prejudica a vida de todo mundo? Ele só é bom para os ermitões, hipocondríacos e desajustados sociais que têm medo de gente e aproveitam a desculpa para justificar sua doença. Para os que se contentam em viver bem só consigo mesmos, afastados das críticas e dos olhares de censura da humanidade, ou até mesmo da comunidade do bairro. Para quem não gosta de vizinho e nem de conversar com gente desconhecida.

Deve ser um horror para as fofoqueiras de plantão, que se ocupam em espiar e espinafrar a vida alheia. Tenho medo dessa gente que está vivendo enjaulada, bebendo do próprio veneno, e dando graças a Deus poder se esconder do mundo sob essa justificativa do perigo iminente.

Quando escuto falarem que o mundo pós-pandemia será melhor porque desenvolverá o espírito de solidariedade entre as pessoas, quase dou risada, porque, na verdade, estamos é nos isolando mais, cada qual cuidando da própria sina. Ex.: os fura fila da vacina.