Não tem faltado alertas das autoridades médicas sobre o perigo de aglomerações neste verão: a cada feriadão anunciado, os cuidados de proteção contra o coronavírus são esquecidos.. Parece que o mundo vai acabar, e o importante torna-se o aqui e o agora, não importam as consequências. Assim sendo, Natal e Ano Novo não fugiram à regra, e os números de contágios e de óbitos aumentaram significativamente nesses períodos. No carnaval, praias, parques, ruas, bares foram palco das comemorações, aglomerações, falta de máscaras e outros descuidos. Dessa vez, os jovens não escaparam depois das suas nas madrugadas. Com o agravante de levarem para dentro de casa, onde os idosos se protegiam, o maldito vírus.

Outra tragédia anunciada nessa época são os acidentes nas estradas e até nas ruas das cidades, grandes ou pequenas. Os noticiários não cessam de contabilizar o número de vítimas diárias, sejam de motoristas irresponsáveis, bêbados ou sem habilitação, como também de vítimas inocentes, cumpridores das leis, que são atingidas por esses infratores.

Uma vítima dos últimos dias foi o motociclista que fazia entrega de lanche a domicílio. Bem jovem, cumprindo seus deveres, foi atingido e morreu na hora. Na mesma noite, se não me engano, pelo mesmo motorista, dois outros rapazes também foram atingidos e estão hospitalizados em estado grave.

O motorista culpado tem dezessete anos, e seus companheiros um pouco mais que isso. Estavam se divertindo, com o carro cheio de bebidas e sabe-se lá o quê mais, sem pensar na vida alheia, já que não dão valor a sua própria.

Enquanto isso, mensagens entre amigos mostrando imagens de antigos carnavais entretinham quem ficou em casa.

Houve famílias que improvisaram fantasias e cantaram e sambaram melodias do passado, sem sair às ruas. Grupinhos de meia dúzia de pessoas, de máscara e demais cuidados de higienização, não deixaram passar sem alegria essa festa popular que atrai turistas de toda a parte, e nos dá tanto orgulho. Pois em tempos normais, o Carnaval tem sido um espetáculo de arte, a cada ano mais surpreendente, revelando nossas vocações musicais, de originalidade nas fantasias, nas alegorias, nesse ritmo contagiante da música brasileira. Que tem suas origens vindas de longe, e aqui recebe nosso repertório nascido nos morros, nas favelas, no sertão.

Temos em nossa história muitos músicos e artistas plásticos famosos, mas quem diria que, do meio do povo humilde, sofrido, que trabalha de sol a sol todo o ano, surge aquele folião dos três dias, que cria os sambas ou marchinhas sentado à mesa de um bar, sacudindo uma caixinha de fósforo? Ou aqueles que idealizam os desfiles com todas as maravilhas preparadas com sacrifício o ano inteiro nos barracões das escolas de samba?

Nossa gente, se não é rica de poder e bens, esbanja qualidades, inteligência e sabedoria de viver.