Há cerca de um ano, no início do verão pandêmico de 2020, ganhei um maracujá maduro da moça que trabalha conosco aqui por casa. Pessoa da família e amiga de todos, pela discrição e importância desde 2010.

Fiz um pequeno viveiro com as suas sementes numa latinha de tinta, e, dentro de poucos dias, brotaram nove hastezinhas verdes no peitoril da janela da área de serviço. Esperei que desenvolvessem, regando e acompanhando o crescimento das mudinhas. Ao fim duns 15/20 dias, plantei as duas maiores junto a um poste da antiga ramada que cobre o espaço entre a porta da cozinha e o galpão do churrasco, dito quiosque.

Depois de um ano, em expansão tipo Camões, nunca antes imaginada, já cobrindo todo o esqueleto de tela da ramada existente, e se espalhando pelos telhados, sem murchar no frio do inverno, minha mulher descobriu as primeiras frutinhas verdes saindo das flores roxas do maracujazeiro. Já são mais de 100, enfeitando a bela sombra fresca do fundo da casa, que serve de abrigo para o carro e para o mate de antes do almoço.

Pois aí que me refiro: veio um enxame de mamangavas pretas, barulhentas e esvoaçantes o dia inteiro pelo meio da folhagem da trepadeira. Fui pesquisar, e descobri que as mamangavas, mamangabas ou até mata-cavalo são insetos que fazem seus ninhos dentro de ocos de madeira ou na terra, produzem mel em pequenas quantidades, dentro de saquinhos de cera, e vivem em pequenos grupos de, no máximo, uns duzentos indivíduos. Fiquei sabendo também que suas raras picadas são muito doloridas, e que só o fazem quando lhes enchemos o saco, tentando espantá-las de onde se encontram. Ah, e que também são as principais polinizadoras dos maracujás. Ah bom, então existe aí uma associação natural da área da flora. Um não vive sem o outro. Almas gêmeas que a natureza se encarrega de encontrar para produzir.

Pensei então que nada acontece por acaso neste mundo, com suas particularidades existenciais, o que confirma um dito muito antigo: “o que o diabo espalha para fazer o mal, Deus ajunta para o bem”. Pois é, quem planta, colhe; e também aprende, e também ensina, ou transfere informações, mesmo que inúteis como estas.

Por estes dias, vivo na expectativa de um maracujá amarelo (maduro) para transformá-lo em suco gelado para beber pensando para onde será que irão as mamangavas quando todas as flores já tiverem caído para dar lugar aos frutos do pé de maracujá…