Tenho lido algumas matérias que relatam voos de americanos em naves espaciais a passeio, do tipo desta: “Quatro turistas americanos iniciaram uma viagem em uma nave espacial, na qual devem passar três dias em órbita ao redor da terra sem nenhum astronauta profissional a bordo”. Outros irão ainda mais longe, para uma Estação Espacial Internacional a 575 quilômetros da Terra. A cada dia, o grupo completará quinze voltas ao redor do planeta. A viagem foi fretada por um americano rico e custará dezenas de milhões de dólares.

Coisa boa que exista gente que disponha de tanto dinheiro, sem saber bem onde gastá-lo, para sair viajando pelo espaço para olhar pra Terra lá do alto e chegar um pouco mais perto das estrelas.

Eu não iria de jeito nenhum, nem para o espaço sideral a bordo de uma nave dessas, e nem para o fundo do mar a bordo de algum submarino nuclear desses que de vez em quando desaparecem nas profundezas, levando todo mundo para sempre.

Faz um tempinho que leio essas notícias e me ponho a pensar em diversas situações: daqueles que há pouco tempo andavam de carreta de boi e ainda não se acostumaram a embarcar num simples avião a jato sem rezar umas dez ave-marias antes do embarque, prometendo virar pessoa boa se conseguir chegar vivo no destino; daqueles outros que não conseguem nem o dinheiro para pagar a passagem para um deslocamento urbano em um desses “modernos” ônibus da Vical e que vão à Prefeitura pedir uma autorização de isenção para idoso; de uns que acreditam que o mundo ficará mais solidário depois do final da pandemia; do número enorme de gente que ainda acredita que é necessário ajudar aos mais pobres para ganhar o direito de ir para o céu quando morrer, enquanto alguns, que não ajudam a ninguém, torram o seu dinheiro viajando para o céu em que acreditam, comprando a salvação da alma por meio da luxúria monetária do seu próprio corpo físico.

Não acredito no comunismo, nem no socialismo, mas essas diferenças entre os homens, desiguais por natureza e princípio, esses contrastes entre riqueza e pobreza, na maioria das vezes por origem familiar e herança cultural, é de doer na alma de qualquer cristão.

Como diria um velho sábio semianalfabeto ali da várzea do Irapuá, de Cachoeira: “enquanto alguns morrem de fome, outros morrem por indigestão“. Assim é o mundo velho do nosso Deus: uns jogando dinheiro pela janela das naves, e outros juntando migalhas nas lixeiras das cidades. Todos gente, com família, com preocupações, com esperança de algo melhor e diferente, com a certeza da morte e sem saber o dia de amanhã. Enquanto alguns conseguem furar o cerco da vala comum e conquistar uma parte da sua independência social, outros parecem que nascem condenados a nunca encontrar um rumo certo para continuar vivendo sem tanto sofrimento.

Enquanto as mulheres do Afeganistão precisam andar cobertas dos pés à cabeça e estão proibidas de frequentar escolas junto aos meninos, no mundo ocidental, inclusive no Brasil, todo mundo pode mostrar bundas e peitos em público apenas para marcar posição. Assim vivemos, nem oito e nem oitenta, mas com muitas disparidades.