Texto em parceria com Maria Eduarda de Castro

Um dia desses passados, quando o mundo ainda não conhecia a “variante ômicron”, nem a catapora dos macacos, a Rússia ainda não havia invadido a Ucrânia e o Eduardo Leite ainda pensava em ser Presidente do Brasil em 2023, aconteceu um fato inusitado na minha vida.

Acordei para ir para a escola, como faço rotineiramente, ficando sempre com um resto de sono por dormir, com preguiça de deixar a cama, e verifiquei que estava tudo muito estranho: o relógio marcava 02:00am, estava dia, mas ainda era madrugada no marcador das horas. Gastei uma hora nos preparativos matinais, e lá pela uma da manhã – o relógio andava para trás – tomei o meu café costumeiro, de pé na cozinha, sem comer nada de pão, esperando pela minha carona de sempre.

Cheguei ao colégio quando já era meia-noite, apesar de já ser dia claro, e o mundo começando a funcionar, com as lojas mais antigas abrindo as portas e os pais levando seus filhos para estudarem. (Não faz muito tempo, tudo quanto era miúdo ia para o colégio a pé, fosse inverno ou verão, com chuva ou com sol quente. Os do interior iam a cavalo ou de bicicleta, não havia o Transporte Escolar).

As sete e meia da tarde, voltei da escola e fui almoçar em casa e lá pelas cinco e meia, depois de um cochilo, me encontrei com duas colegas para fazer um trabalho de ciências, depois da aula de inglês das quartas-feiras: The book is on de table, etc.

Esqueci de lhes dizer que a minha cidade tinha um shopping onde fomos comer um Burguer King e assistimos ao filme do Coringa, que achei muito maneiro. Passei na casa da minha colega para pegar as coisas dela, porque ela ia dormir lá em casa e, já na minha casa, fomos para a piscina brincar na água e escutar as nossas músicas favoritas do Justin Bieber.

Um tempinho depois, minha mãe nos chamou para jantar e já eram 11:45 da manhã. Comemos um pizza de calabresa e de chocolate branco com morango, que é a minha favorita. Eu gosto também de comer os morangos congelados como se fossem picolés naturais.

Mexemos nos celulares e conversamos um tempão, quando nos demos conta que estava na hora de dormir de novo, pois o corpo pedia e o sono se aproximava. Era 9h da manhã no meu relógio maluco do celular.

Fiquei alguns dias com aquela confusão de tempo e horário na cabeça, e resolvi pedir ao meu pai que mandasse consertar nosso relógio velho de parede, de cuco, já que a tecnologia do celular desregulado estava me deixando louca.

Hoje, ainda custo para entender o acontecido e fico especulando acerca das vantagens que haveriam se existisse um relógio como aquele que andava para trás, invertendo o tempo. Será que a gente ficaria cada vez mais nova, conforme o tempo passasse? E será que nasceria de novo ao invés de morrer de velha? E, neste caso, somente o dono do tal relógio maluco é que renovaria na idade? E as outras pessoas o que deveriam pensar duma aventura dessas?

Ao fim e ao cabo disso tudo, acreditem se quiserem nesta estória maluquete, porque eu quero mesmo é só esquecer aquele dia invertido que tantos contratempos me infringiu. Acredito que tenha renovado um dia na minha idade, e ainda não sei se, daqui pra frente, seria obrigada a antecipar a data do meu aniversário, que era no dia 03 de julho.